Salute

Diabetes Tipo1

Até o início do século XX, antes da descoberta da insulina, as pessoas com diabetes eram tratadas com uma dieta rigorosa, com um consumo extremamente baixo de calorias, que poderia ser tão fatal quanto a própria doença. 

Um primeiro marco importante desse capítulo da história se deu em 1913, quando o fisiologista inglês Edward Albert Sharpey-Schäfer , considerado o pai da Endocrinologia, sugeriu que as tais ilhotas, descritas por Langerhans, fossem as responsáveis pela produção de uma secreção com o poder de regular o metabolismo da glicose. Para essa nova substância, propôs o nome de insulina (do Latim: insula , que significa ilha).

Assim, os primeiros anos do século XX testemunharam os esforços para desenvolver uma terapia eficaz contra o diabetes, a partir da administração de extratos pancreáticos aos pacientes. Naquela época, porém, embora fosse observada alguma redução na glicemia, os efeitos adversos, provocados pela elevada concentração de enzimas digestivas (do pâncreas) nestes extratos, inviabilizavam seu uso clínico.

Foi quando o canadense Frederick Banting , um jovem cirurgião com pouco mais de 4 anos de formado, estava lecionando anatomia e fisiologia na Universidade de Ontário. Numa noite em que não conseguia dormir, enquanto preparava uma palestra sobre o pâncreas, Banting pensava sobre um relato, publicado na revista médica Surgery, Gynecology and Obstretics (volume de novembro de 1920). Nesse artigo, o professor Moses Barron, da Universidade de Minnesota, apresentava o caso de um paciente que tinha tido uma obstrução total do ducto pancreático por um cálculo, vindo da vesícula. 

O achado interessante era que o pâncreas do paciente tinha tido a sua porção exócrina (que produz as enzimas digestivas) completamente atrofiada pela obstrução, mas as ilhotas de Langerhans estavam intactas – e o paciente não desenvolveu diabetes… 

Então, ali pelas duas da magrugada, Banting fez uma anotação: “ Diabetes. Ligar ductos pancreáticos de cães. Manter os cães vivos até que os ácinos degenerem mantendo as ilhotas vivas. Tentar isolar a secreção interna das ilhotas para controlar a glicosúria ”.

Foi o professor F.R. Miller, então chefe de Banting, quem sugeriu que ele procurasse pelo Prof. Macleod, chefe do departamento de fisiologia da universidade, além uma autoridade no estudo do metabolismo de açúcares. Após alguns encontros, em novembro de 1920, Macleod ainda não tinha se convencido da ideia de Banting. Afinal, tratava-se de um jovem médico, sem nenhum histórico científico e com uma ideia parecida com a de vários outros pesquisadores – que tinham falhado em demonstrar resultados em trabalhos com extratos pancreáticos. 

Diferentemente dos estudos anteriores, no entanto, Banting estava propondo a administração de extratos de pâncreas degenerados. Assim, no verão de 1921, o doutor Macleod deciciu dar uma chance ao jovem, e então abriu as portas de seu laboratório, designando o estudante Charles Best para auxiliá-lo em seus experimentos. 

Para obter o extrato, os pesquisadores realizavam um procedimento para interromper o ducto pancreático de cães de laboratório. O extrato era então produzido a partir do pâncreas degenerado desses cães. Para testar se os extratos funcionavam, um outro grupo de cães foi tornado diabético, pela retirada completa do pâncreas. 

Então, após dezenas de testes, a cadelinha Marjorie foi a primeira cadela diabética tratada com sucesso com o extrato pancreático de Banting. Como precisava prosseguir com os experimentos, com o tempo, Banting passou a usar extratos de pâncreas bovinos, obtidos em abatedouros. 

É claro, a purificação dos extratos permaneceu sendo um desafio, até que, em janeiro de 1922, a equipe do farmacêutico James Collip , pôde testar uma amostra de extrato purificado. Leonard Thompson, um menino diabético tipo-1, então com 14 anos, foi quem recebeu essa amostra, tendo sucesso na reversão da hiperglicemia e glicosúria. 

Em 1923, esses quatro cientistas, Banting, Best, Macleod e Collip foram agraciados com a medalha do Prêmio Nobel, pela descoberta da insulina. Por coincidência, eles deram ao hormônio o mesmo nome que, anos antes, tinha sido cunhado por Schäfer.

A identificação da sequência de aminoácidos da molécula de insulina, rendeu ao biólogo inglês Frederick Sanger o Prêmio Nobel de Química em 1958. Cerca de dez nos depois, Dorothy Crowfoot Hodgkin , bioquímica também de origem inglesa, também vencedora de um Prêmio Nobel (1964), dessa vez de Química, usou sua técnica de cristalografia por raios X para identificar a estrutura espacial da molécula desse hormônio.


Ainda vem muito por aí…

Estamos na reta final! O que vocês acharam até agora?
No próximo capítulo, enceramentos essa fantástica trilogia — não esquece de convocar os amigpos adeptos da leitura aqui para se cadastrarem na Tipo1: compartilhe com todos amigos, estudantes, quem mais você achar que irá gostar dessa coleção — afinal, o fato mais importante história para a nossa comunidade merece ser conhecido e celebrado!

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